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A Expulsão de um Jogador no Futebol e Reflexões para o Mundo Corporativo

A Expulsão de um Jogador no Futebol e Reflexões para o Mundo Corporativo

Antes mesmo do ponteiro grande do relógio dar uma volta completa após o apito inicial da final da Copa Conmebol 2024 entre Atlético Mineiro e Botafogo, o meia Gregore, do time carioca, já havia sido expulso de campo.

No calor de uma partida de futebol, poucos acontecimentos testam a resiliência de uma equipe como a expulsão de um jogador. O impacto é imediato: a equipe precisa reorganizar sua estratégia, manter a moral elevada e superar o baque e a sensação de desvantagem. Afinal, eles terão que continuar a partida com um atleta a menos. Nessa situação, o técnico e o capitão assumem papéis fundamentais como líderes. Esse episódio, comum no futebol, carrega lições para o mundo corporativo, especialmente no que diz respeito à liderança e trabalho em equipe.

O Técnico: o Líder diante de uma Crise

No dicionário, crise é definida como uma mudança súbita – e é exatamente isso que ocorre quando um jogador recebe o cartão vermelho. O técnico deve, em questão de minutos, revisar o plano de jogo. Ele avalia os recursos disponíveis, ajusta a formação e redistribui funções. Além de redefinir o esquema tático, pode promover mudanças na escalação. Tudo precisa acontecer muito rapidamente pois a partida estará terminada em menos de 90 minutos. 

Além disso, a postura emocional do técnico é essencial. Surpreendentemente, não é raro vermos técnicos também sendo expulsos de campo. Quando ele demonstra nervosismo ou descontrole, essa energia pode contagiar negativamente o time. Abel Ferreira e Fernando Diniz, dois dos técnicos mais “esquentados” do futebol brasileiro, parecem contradizer essa afirmação. Diniz, por exemplo, conseguiu o feito de ser expulso na sua estreia como treinador do Santos em 2021. Partida que acabou com a vitória do Peixe sobre o Boca Juniors por 1×0.

No ambiente corporativo, líderes enfrentam desafios similares: a perda de um colaborador exige agilidade na reconfiguração de papéis e processos, sem comprometer a entrega dos resultados. Manter a calma sob pressão inspira a confiança e o foco da equipe.

Lições:

  1. Embora sob forte crítica atualmente, o estilo comando e controle de liderança é o que funciona em momentos de crise. Não é a hora de fazer benchmarking ou ser democrático consultando toda a equipe sobre a melhor tática a ser adotada. 
  2. Planejamento sucessório é um processo de RH, mas é um imperativo do negócio. A saída de um profissional-chave causa descontinuidade. Nenhuma empresa ou líder pode ser refém de uma pessoa. Com o auxílio do RH, o líder deve permanentemente desenvolver e preparar sucessores para os postos-chave da organização.
  3. Alguns estudos mostram que apenas 3% das pessoas são fundamentais para o sucesso de uma organização. Esse grupo seleto deve ser tratado de forma diferenciada. 
  4. Uma pessoa em posição de liderança deve desenvolver o seu auto-conhecimento, comportamento e postura executiva. Preocupação que o ajudará diante de situações adversas.

O Capitão: Liderança pelo Exemplo

Em 1968, Pelé foi expulso durante um amistoso que o Santos disputava na Colômbia. A revolta do público foi tão grande, que ele voltou a jogar e quem acabou retirado de campo foi o juiz da partida. Descontando-se essa situação caricata, esse tipo de reviravolta é praticamente impossível. No entanto, jogadores da equipe desfalcada correm em direção ao árbitro e o pressionam com questionamentos e xingamentos. Em reação igualmente instintiva a equipe adversária faz o mesmo. A confusão está armada, muitas vezes exigindo que o policiamento entre em campo para apaziguar os ânimos. O futebol europeu acabou com este papelão impondo a regra de que apenas o capitão de cada equipe pode se dirigir ao árbitro. 

O técnico atua fora do campo. Dentro das quatro linhas, é o capitão que se torna a voz do técnico e o principal motivador e orientador dos colegas. Ele precisa assegurar que todos permaneçam unidos, compensando a ausência do jogador expulso com esforço extra e foco na execução do novo esquema de jogo. 

Nas empresas, esse papel pode ser desempenhado por líderes formais ou influenciadores informais que ajudam a manter o grupo focado e motivado em tempos difíceis. Eu costumo dizer que os verdadeiros líderes emergem nas crises. O capitão corporativo é aquele que, diante de uma adversidade, reforça o propósito, motiva os colegas e mantém a coesão. 

Lições:

  1. Grandes líderes inspiram pelo exemplo. Em crises, demonstrar otimismo realista e engajamento faz a diferença para motivar a equipe.
  2. Líderes informais podem contribuir conduzindo projetos, multiplicando conhecimento, facilitando treinamentos e programas de onboarding, propagando a cultura corporativa e sendo agentes de mudança.
  3. Embora existam líderes natos, a maioria dos profissionais precisa de treinamento e coaching para ocupar essa posição. E, mais importante, precisa querer aprender e possuir interesse genuíno em apoiar o sucesso de outros.

A Equipe: Colaboração e Resiliência

A música do Skank diz “centroavante é o mais importante”. No entanto, um só jogador não vence jogo, seja ele o capitão ou o centroavante. Esses têm sua função, assim como o zagueiro o meia e o goleiro. A força de uma equipe está na sua interdependência (ou jogar junto), que depende de confiança mútua, comunicação clara e uma cultura que valorize a colaboração.

Lições:

  1. Profissionais de RH desempenham um papel central na construção dessa cultura, garantindo que líderes e equipes estejam preparados para enfrentar momentos de alta pressão. Os eventos de team building e as sessões de coaching em grupo ou individuais são alguns exemplos de como o HRBP pode atuar.

E com o jogador expulso, acontece o que?

A comissão técnica da equipe dedica-se à preparação física, mental, técnica e tática de seus atletas diariamente. Os clubes mais ricos podem contar com um elenco de suporte numeroso: treinador de goleiros, preparador físico, nutricionista, massagista, roupeiro, médico e psicólogo. Muita gente se dedica aos treinamentos diários, a estudar os adversários, definir uma estratégia de jogo e escalar o time que entrará em campo para cada disputa.

Na final da Libertadores, o trabalho dessa equipe foi prejudicado por um ato irresponsável de um atleta emocionalmente despreparado após apenas 26 segundos de jogo. Dois clubes da Série A do Campeonato Brasileiro de 2024 amargaram quatro expulsões de um mesmo atleta. Ou seja, esses dois indivíduos, por mal comportamento, deixaram seus times em má situação em oito das 38 partidas da competição.

Onde está o senso de equipe desses jogadores?

E, diante do prejuízo que suas atitudes causam ao grupo, porque a comissão técnica insiste em mantê-los no plantel? Como diz o ditado popular, “errar é humano”. Mas insistir no mesmo erro e prejudicar o trabalho de tantas pessoas? Minha opinião é que esses jogadores devidamente orientados após a primeira expulsão, deveriam ser negociados para outras equipes na reincidência do erro. 

Lições:

  1. Feedback é importante. Dando o benefício da dúvida, pode ser que o jogador expulso não tenha consciência do dano que causa aos colegas. O óbvio precisa ser dito.
  2. Colaboradores problemáticos precisam passar por treinamentos de comportamento ou ser redirecionados para funções onde causem menos impacto negativo.
  3. A inação é uma ação. Tolerar maus comportamentos emite a mensagem errada. Afinal, se não há consequências, tudo vale.

A Grande Lição

No final, o que aprendemos no futebol – e na vida corporativa – é que momentos de crise não determinam o resultado final. O que realmente importa é como líderes e equipes respondem ao desafio.

Nota: Me mande comentários, insights e analogias que você faz sobre o mundo corporativo. Meu endereço de email é marcelonobrega@terra.com.br

© 2024 Andrea Mendonça

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